Ele tinha poucas noções dos princípios profissionais mas era protegido pelo Gabi, o gerente do clube. Talvez porque ele sentia que, protegendo-o, ilibava-o de ser mau profissional. Os conflitos com ele eram habituais mas nunca com muita intensidade.
Esta personagem era o Xico e nunca percebemos qual a razão porque ele tinha a mesma profissão que nós…
Numa noite de sábado, ele decidiu dançar uma das músicas habituais do meu espetáculo.
É uma regra profissional, respeitar e coordenar as escolhas musicais de cada dançarino. O primeiro a usar uma determinada faixa musical na sua coreografia fica com o direito sobre a mesma, exceto se, por consenso mútuo, a partilharem. A música identifica a fantasia e o espetáculo de cada um.
Nessa noite, com muita rebeldia e indisciplina, o Xico usou a minha música principal. Era profunda e na qual eu me revia… “Ella” do cantor Alejandro Sanz.
Tendo ele conhecimento das regras, tomei a atitude dele como ofensiva. Por certo não usei muita sensatez mas sabia que a razão estava do meu lado.
Quando nos achamos “donos” da razão, temos a tendência de exagerar na justiça para contrabalançar com os momentos em que a razão não nos cabe.
O Xico discutiu sem argumentar e sem um pedido de desculpas, o que me irritou ainda mais. Mas a noite prosseguiu e eu sentia-me bem mais confortável profissionalmente que ele.
Algo menos previsível aconteceu durante a nossa discussão.
Por perto estava a Teresa que ouviu intencionalmente toda a querela interiorizando a minha revolta. Ela sentiu, talvez, a minha impotência para fazer justiça. Ele mostrou total vilipêndio pelo trabalho e pelo que senti. O que aumentou o desrespeito.
Ao fim da noite, a Teresa explorou o ponto fraco do Xico e seduziu-o até ao momento final. Conseguiu fazê-lo acreditar, à boa maneira feminina, que ele era único e especial. E nada mais fácil para uma fêmea que “laborar” sobre a testosterona masculina.
A malícia sensual da mulher vence sempre a fraqueza testicular.
E assim foi.
Ele seguiu-a para uma noite de sexo e promessas. Ela levou-o para o canto da morte, enquanto ele mergulhava em beijos, loucuras e futurismos de felicidade.
No dia seguinte, ela desapareceu e manteve essa ausência durante algum tempo. Finalmente ela atendeu a chamada.
O Xico questionou-a sobre o que se passou e desabafou, numa expressão de acusação, que não se sentia bem fisicamente. Ela fechou a cortina da sua vida numa curta frase:
- “Esta foi pelo Marko!”
Sem comentários:
Enviar um comentário