sábado, 30 de janeiro de 2016

Homem desenhado

Sou o homem mais desenhado do universo, ou de um país, ou de uma cidade, ou, talvez, o lá da minha rua. Mas sou.
Sou belo, porque alguém, na sua visão o faz sentir. Sou horrível, simplesmente porque sou.
Sou autor das maiores injustiças, sou mau, sou ingrato, sou uma besta... Sou humano, sou gentil, sou amigo. Sou tudo e não sou nada.
Alguém diz que eu sou um vendedor de banha da cobra.
Mas eu vendo alegria e na realidade, nem todos acreditam. Delicio-me com um sorriso, por outro usado, sabendo que fui eu que o forneci.
Até tenho tudo à venda mas há muitos compradores sem valor para comprar, ou até serei eu que vendo muito acima do valor.
Mas sobra-me sempre o argumento, o argumento de poder ser tudo aquilo que a minha loucura me exigir.

Afinal José não morre

A vida parecia mudar de linha, e tudo se redescobria.
O José acabara de regressar da cidade do México. Dançara para mais de mil e duzentas pessoas naquele que seria um marco na sua vida artística e marcava também o princípio do fim.
A vida tinha sido sempre um palco cheio de representações onde a tragédia e a vitória se confundiam.
"A morte do artista" era um desejo que morava no teto dos que o rodeavam. Um sinónimo de inveja, muitas vezes disfarçado por aproveitamentos de insucesso de um alvo determinado pela raiva.
Mas José não morre nos momentos em que o mundo se escurece.