Ainda se lembram quando corriam para casa direitinhos ao quarto e abriam a revistinha na página que tinham terminado na última vez?! Das vezes que iniciavam uma bela masturbação e eram interrompidos pela mãe ou pai que se lembravam de vos mandar para a mesa ou perguntavam: - " O que fazes tu sempre fechado no quarto??!!!". Das vezes que se vinham, lá sujavam a revista como se, em vez de papel, ali estivesse uma linda e porca gaja toda aberta para nós, prontinha para ser comida. Pior era que, depois de se virem vinha a agonia da verdade, que tudo não passava de uma pura imaginação, que afinal já não podíamos mostrar a revista ao amigo porque já estava suja!!! Ou então, até nos emprestaram a “Gina” e na parte onde está a gaja toda nua, a provocar-nos, a dizer "vem grandão, estou á tua espera...", estava com as páginas coladas... Que nojo!!! Mas a vontade era tanta que, com algum esforço, conseguimos abrir a página cuidadosamente sem rasgar... E lá vai mais uma!
O ridículo era que, entre nós, homens, aceitávamos e até partilhávamos a experiência da masturbação, até competíamos em grupo para ver quem é que ejaculava primeiro. Era como se partilhássemos o síndrome da testosterona. Por outro lado, as irmãs ou as amigas tentavam sempre roubar as revistinhas e em vez de se excitarem com as imagens comparavam-se às modelos porno. Desejavam um dia ser como elas, ter grandes mamas e pêlos púbicos enquanto criticavam as atitudes nojentas dos rapazes. Talvez os nossos pais aceitassem, através do fingimento, que recorrêssemos a estes conteúdos inspiradores. Era bem melhor isto que ter um filho gay. E quantos não acordaram de manhã, atrapalhados para limpar os lençóis porque os sonhos tinham sido tão picantes…
Em todas as entrevistas que dei, há sempre uma pergunta que está na lista: - “A sua família, como reagiu?”.
Bem, a minha família orgulha-se, os meus amigos orgulham-se os meus vizinhos respeitam-me a minha mãe é a primeira a informar as suas colegas do hospital, do que faço e onde atuo. Mesmo que ela não contasse, as colegas lá lhe iam dizendo: “Olhe, vi o seu filho a fazer um show de Strip. Tem cá um filho… Vai lá vai…”, “Com um corpo daqueles não saía de casa durante uma semana. Um homem assim deve fazer uma mulher sentir-se “preenchida”…”. O que vale é que a minha mãe não esconde segredos e lá me conta as confidências das amigas.
O orgulho de quem gostamos deve estar sempre presente. Quando me fazem a pergunta citada, penso: - “Será que o que eu faço é um crime que envergonha a família e os amigos?!”. Por certo não.
Meu professor de Português era um padre, o padre Manel. Duro, disciplinador, as vezes até parecia mau. Na minha aparição na TV, foi ele que informou a senhora Maria de Lurdes, orgulhosamente, lá do Instituto Pina Ferraz em Penamacor. E eu fiquei muito feliz por isso. Não me lembro de ninguém que não me tivesse apoiado, pelo contrário, toda a minha família fez questão de ver os meus espetáculos. Até as minhas sobrinhas, Ana e Raquel, com idades a rondar os 10 anos se divertiram com a minha profissão.
A minha primeira preocupação é divertir-me com o que faço, porque gosto do que faço e porque o faço bem. Cada sorriso que vejo de uma pessoa que assiste ao meu show é um motivo de alegria para mim. Para além deste divertimento profissional, há um trabalho por trás. O Beatboys é um grupo de homens. Homens grandes, carregados de testosterona, vaidosos e que por vezes não são fáceis de gerir. Admito que também não tenho o melhor feitio. Porque sou exigente, porque gosto de me rodear pelos melhores, porque não quero que um Beatboy desvalorize o que faz, porque exijo que, quem trabalha comigo seja um Senhor.
Conheci o Marcelo. Um brasileiro que não conseguia ser amigo da dança mas tinha uma imagem muito forte. Era um rapaz bonito, vistoso, alto e parecido com um ator de uma novela brasileira da altura. Estávamos em 2003.
Cada vez que o Marcelo entrava em palco, como sua pose calma, as mulheres suspiravam. Nem estavam preocupadas com as suas qualidades como bailarino. No P2 ele brilhava e encantava com a simpatia.
Uma noite, Marisa decidira ir festejar os seus 21 anos ao clube das mulheres. Era por certo aquele clube jardim Constantino em Lisboa.
Acompanhada de duas amigas, lá foi, pronta para uma noite louca. Levava consigo um bolo de aniversário na esperança de poderem partilhá-lo com muito mais pessoas, principalmente com os gajos bons que lá dançavam. Ela, a Ana e a Sofia depressa se ambientaram, conquistaram a atenção, até porque Deus não se tinha esquecido da sua beleza e o Demónio fazia questão em acompanhá-las. Como sempre, o Tony fez a abordagem á Mr. Casanova:
Tony: - “Não sei como os teus pés aguentam o peso de tanta beleza...”.
Marisa corou mas percebeu a vulgaridade daquela entrada. Era um “coro bem batido” mas previsível. Tudo era mágico para as três gatas… Homens lindos, todos reunidos num só lugar. De repente, o Marcelo desce as escadas e o coração da Marisa acelerou injustificadamente. Foi uma paixão ao primeiro olhar, ela passou a ignorar tudo o resto, e os seus preciosos minutos passaram a ser dedicados a contemplação do bailarino. Marcelo mantinha a posição de um profissional atencioso e simpático. Para ela, ele jamais lhe iria dar atenção no meio de tantas mulheres bonitas. Aquela paixão prendia Marisa que passou a frequentar o clube todas as quartas, sextas e sábados.
As três alimentavam as suas fantasias mas só uma é que se focava num homem só. Até que um dia, Marisa encheu o peito e foi até ao camarim. Com algum atrevimento, mete conversa connosco mas rapidamente isola o Marcelo. Sem muita conversa, beijam-se como se o mundo fosse acabar. Este foi um dos momentos mágicos e de paixão, o outro foi dois pisos abaixo quando todos lhe cantavam os parabéns e a Marisa foi brindada com um Strip em conjunto de todos os bailarinos. As três gatas acabaram por se afastar do Passerelle 2.
Marisa volta a encontrar Marcelo no Cacém, algum tempo mais tarde e o coração voltou a bater. Era um amor platónico, escondido num beijo intenso. Nunca passou desse simples gesto mas a paixão ficou para sempre.
Acabou por descobrir que as amigas com quem partilhava as suas loucuras, eram um casal de lésbicas e que até já viviam juntas.
Muitas vezes me apercebi que no meio daquele público podia encontrar muitas lésbicas. Para elas era um mundo perfeito, cheio de mulheres de todo tipo, até aquelas que, fartas e frustradas das más relações com o machos, viravam a aventura e encontravam noutras mulheres o que certos homens nunca lhes conseguiram dar. Por outro lado, elas, as lésbicas, eram as primeiras a manifestar todo o apoio aos bailarinos, sempre divertidas e sem pudores.
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