terça-feira, 16 de novembro de 2010

Eu, a rede social, o sexo e o show.

Sabem aquela sensação de olhar para trás e reparar no que não reparámos? Como se passassem uma passagem de nível sem guarda e 1 segundo depois o comboio passasse!!! Pois é... E se de repente misturasse o Show, a sua arte, o sexo e adiccionassemos o Facebook? Aí percebia a passagem do comboio, a minha, (pouco antes) e o que fiz antes disto tudo. Muitas vezes fazemos passar aquilo que não é, mais raramente tentamos não passar aquilo que é. Para quê? Nas minhas loucas viagens tenho entrado em mundos puramente imaginários para um ser humano comum. Eu viajo dentro deles distraidamente, descontraidamente e até levianamente. Mas nada disso me incomóda.
A minha virgindade no mundo da fantasia do mercado erótico começou em Bilbao. Distante Qb do lar-doce-lar e distante Qb da proximidade da minha fantasia á minha realidade. Alguém me comentava, "Passei toda esta feira e não vi uma puta duma pila!!!", (em espanhol, claro). Não soube o que responder e nem tinha resposta artística para a reclamação feminina. Por mais quente que fizesse o meu espectáculo, jamais ofuscava um espectáculo de 2 actores pornográficos, onde tudo é demasiado real, ou real quanto baste. Mas não me intimidei. Um dia antes, numa janela imaginária montada no palco onde actuaria, abri-a para o meu mundo imaginário. Foi quando vi, bem ao fundo, 2 corpos desnudados de todos os preconceitos, rodeados de olhares indiscretos, famintos da liberdade de ver sem que a distância fosse uma fronteira. E eu, ali estava a um bons 200 metros sem decifrar o que se passava. Talvez decifrasse mas a minha imaginação ainda não tinha assimilado o facto. Alguns largos segundos depois, o sexo ao vivo entrou na minha interpretação.
E como era possível dois seres humanos terem coragem de fazer tal demonstração tão íntima?! Como era possivel os "outros" terem coragem de entrar por direito próprio na intimidade fisica do casal?! Mas facilmente percebi que eu é que estava fora do contexto.
Mais tarde, numa invasão inocente do camarim partilhado deparo com o casal em "aquecimento". Num espaço apertado onde o cruzamento de 2 pessoas se torna incómodo, visiono um homem, de fantasia incompleta, como se estivesse no fim de um turno de um soldado da paz, descontraído mas atento, muito atento. A sua atenção reflectia-se na sua cabeça declinada, concentrada num vício delirante. Fisicamente estático e disponível. Seguindo o seu olhar, a direcção foi curta e directa a um monte de cabelos, presos pelas mãos do macho. Ela ajoelhada fazia-lhe elevar o ego a imaginação, o suficiente para permitir uma erecção. Acariciava-lhe o penis como uma serva feliz. A minha passagem mais parecia a de um fantasma habitual na casa. Tudo continuou normalmente, era o "aquecimento" para o espectáculo sexualmente explícito. Na verdade, a minha entrada foi tão rápida e tão descontraída como a saída. Portei-me como se isso já fizesse parte do meu dia-a-dia.
O sexo para mim tinha levado mais um sopro suave onde uma folha caída esvoaçava e me transportava o olhar para um horizonte de cores desconhecidas. Para mim o céu poderia ser verde naquele momento... Tanto me fazia.
Cinzento se tornou quando vi outro espectáculo onde o sexo toma um sentido marginal. O quadro era raro, estranho, picante, nojento, tentador, promiscuo...
Duas mulheres encantam o público num show lésbico, quente mas penetrado por um terceiro elemento, numa mistura cósmica. A figura retocada, tinha lábios carnudos, maçãs demasiado perfeitas, cintura definida e rabo excitante para qualquer macho mais levado pela testosterona. Era um Travesti, que nem era uma mulher bonita nem um homem charmoso. A mistura cria uma ideia caótica da atração sexual. A meu entender, uma sensação negativa afastava o meu interesse mas tinha de haver algum sentido para tudo isto. decidi continuar a ver.
A certa altura, depois das peças do vestuário levarem o caminho que todos os espectadores desejavam, eis que todo o meu sentido sofre um revés.
O Travesti, que seria um Transexual, tinha todos os moldes de uma mulher perfeita, com todos os retoques cientificamente possíveis para dislumbrar os mais assanhados mas algo quebrou esta linha natural e não biológica. "ELA TEM UM PÉNIS!!!" - exclamei eu.
Que sentido fazia uma mulher com pénis ou um homem com seios de mulher?! Teria de haver... Teria de haver...
Foi então que decidi averiguar. Tinha de encontrar alguém perto desta realidade, bem mais perto que eu, por certo. Lembrei-me de um indivíduo, que por acaso era amigo, respeitador em toda a linha e era Gay, actor Gay com pouca experiência. Perguntei se havia explicação para tal já que o transexual, pelas alterações fisicas, não me parecia que aquela nuance fosse resultado de dificuldades financeiras. Porque tinha alterado tudo menos o sexo?
A explicação é demasiado básica e está tão próxima da nossa realidade diária. Grande parte destes transexuais dedica-se á prostituição e ao retirarem o sexo perdem mais de 90% dos clientes. Faz sentido, quem os procura não procura nem uma Mulher, nem um Homem, para isso encontra facilmente em qualquer sítio. Procuram sim, algo para além da imaginação vulgar, algo "doentio", fascinante, proibido, nojento o suficiente para excitar e levar ao delírio menos saudável para a mente humana.
Percebi a explicação mas não me tirou a "azia".
Muitas viagens profissionais se seguiram, Madrid, Porto, Helsinquia, Sevilha, Valência, Paris, Corunha, etc...
Todas elas decidi partilhar no meu Facebook ou Youtube e Dailymotion. O Dailymotion é mais ajustado á realidade, permitindo a exibição de imagens que no dia-a-dia são vulgares. Em Madrid, num dos espectáculos mais escaldantes de sempre, ocultei no Youtube parte do que aconteceu. (Muitas vezes fazemos passar aquilo que não é, mais raramente tentamos não passar aquilo que é. Para quê?)
Do públicou saltou uma mulher bonita, corpo trabalhado, sorriso delicioso, cabelos pretos, longos e bem cuidados. Vestia um vestido verde vivo, tecido de bom algodão, solto e fino. Decidida como uma flecha, subiu e penetrou o seu olhar em todo o meu corpo. Na primeira aproximação, as mãos delicadas, femininas percorreram todo o meu corpo como se estivesse exposto a uma revista sensual por uma agente prevertida. As coisas tornaram-se imediatamente quentes. Aproveitando esse facto, usei-o para coreografar uma dança que todos esperavam com um final arrasador. Com uma plateia de mais de 300 pessoas expectantes, não tinha fuga possível, na verdade também não a procurava.
Numa estranha cumplicidade, os corpos enrolaram-se em cima de uma cama redonda, manchada pelas exibições mais extrovertidas, vícios sexuais de palco e outros que nem me apetecia imaginar. Ali estava eu que nem um anjo no meio dos descomplexados. Até aqui o filme corre públicamente a favor da boa imagem. Mas a certa altura o controlo já é algo que se perdeu no guião. A fémea tentadora, concentra um olhar e num gesto premeditado e directo, beija-me loucamente para delírio da assistência. Eu retribuo adiccionando um passo de dança que mais não é que um colar sexual e nasce um momento erótico do qual eu não sei o fim. E o fim foi... Doce, calmo, com uma exibição no varão ao som do meu eterno "November rain" dos "Guns´n roses". Final infeliz para quem esperava algo mais.
Demorei mas percebi que a realidade era bem diferente e que o que as pessoas exigiam de mim era muito mais, algo que eu recusava dar por uma questão de princípios. Mas o que são os princípios de cada um? Serão os meus pricípios que valem ou os dos outros?
Esta questão pode ter a resposta para os meus fantasmas. Entendo que, há coisas que fazem sentido nos locais próprios, onde sabemos a quem nos dirigimos, onde sabemos que não vamos decepcionar quem nos apoia e admira, onde podemos dar a "carga" certa ás nossas coreografias e/ou exibições. Será que é fútil todo este espectáculo de dança, sensualidade, strip, fantasia? Se o é temos de encontrar resposta para a razão de tantas pessoas pelo mundo inteiro admirarem, verem, deliciarem-se, divertirem-se com este espectáculo. Ou será que só faz sentido para o futebol? A arte está nas mãos de cada um, ou tem ou não tem, cabe ao público julga-la. Eu só tenho a agradecer a tanta gente pelo mundo inteiro me apoiar, me ver ou simplesmente se divertir.
Assim decidi despir-me um pouco mais de preconceitos, uma decisão pessoal, bem pensada. Nestes momentos a primeira imagem que me vem é a das minhas filhas e até que ponto poderei continuar a ser o orgulho delas. De seguida a Mulher que ocupa o meu coração e o quanto a poderei ferir se ultrapassar os meus princípios ou os alargar. Por último a família e amigos que sempre me apoiaram de cabeça erguida.
O risco não é elevado se tudo o que fizer for no momento certo, no local apropriado, com o público certo,
O local foi perfeito, o público genial, o país perfeito (Espanha, Gijon), o momento indicado e a data também (Novembro de 2010)... Publiquei tudo no meu Facebook, o tal do Marko de Sousa. Não, não publiquei, não expus, nem deixei o rasto disto. Esta imagem está correcta ou errada? Aconteceu ou não? (Muitas vezes fazemos passar aquilo que não é, mais raramente tentamos não passar aquilo que é. Para quê?)

5 comentários:

  1. Quem quer ficar pelo caminho?
    É lógico que o teu trabalho é um e o desejo faminto de uma femea nem sempre compreende ou se fica por esse trabalho.
    É um aquecimento perigoso...principalmente se depois não existe um macho capaz de o saciar.
    Admiro o teu trabalho!
    Parabens!

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  2. É onvio que o teu trabalho provoca sentimentos contraditórios e por vezes dificeis de entender... mas alguem, tem k personificar o homem ideal (ou quase)...
    Como já te disse pessalmente e ñ só, sou cada vez mais tua admiradora. És lindo por fora e um excelente ser humano.
    Continua assim... Parabéns!
    Bjs

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  3. Acho que quando se passa a ser um sex symbol , muitas vezes as barreiras que dividem uma exibição daquilo que a pessoa é no dia a dia , tornam-se extremamente ténues , fazendo com que por vezes nós nos percamos no nosso consciente ou direi antes , inconsciente ? Mas acima de tudo , a capacidade que tu demonstras aqui de puderes analisar , através de uma muitissimo bem estruturada introspecção , tudo aquilo que tem vindo a acontecer na tua vida , mostra que não és apenas e só um sez symbol , mas , para muitos , um ídolo.

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  4. Tu de facto és unico!! Para mim conseguiste superar o frey em termos mediaticos! Ser um striper não é só saber usar o corpo,mas tambem a cabeça e nisso tas mt a frente. Mario(eros ex kupidos e passerelle)abrç

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