quinta-feira, 12 de julho de 2012

O livro II: Pedaço de um espelho partido - O mundo é redondo


O mundo é redondo

A vida é um comboio que nunca para. Por vezes abranda mas nunca para... Só para quando na nossa imaginação o quiser, quando fecharmos os olhos para não enfrentarmos a realidade. Quando os abrimos percebemos que já passámos muitas estações e apeadeiros, que já muita coisa passou por nós e não quisemos ver. Nunca digas que voltas porque jamais o farás. Apenas me poderás reencontrar mais à frente. Porque o mundo é redondo e nada se repete, apenas se reencontra de uma forma ou de outra. Num preciso momento, sem local nem aviso, a memória e o subconsciente tratarão de te acordar para algo que pensaste nunca mais sentir de novo, mesmo que tudo seja diferente, todos sejam diferentes, a sensação será a mesma e os sorrisos e lágrimas te marcarão. O mundo é redondo e voltaremos sempre a reencontrarmo-nos de qualquer forma...

Depois de lançares uma pedrada no espelho, perceberás que a vaidade cabe nesse pedaço de um espelho partido que sobrou.

E quando voltares a olhar para a frente, o mundo vai ser maior, menos individualista.

O nosso valor é tanto quanto a coragem para enfrentarmos os nossos medos, a força para caminharmos por cima dos imprevistos, o olhar decidido e sorridente quando olhamos para trás, o ímpeto para abrirmos uma porta que nunca esteve fechada para nós. Caiam lágrimas fatalistas, ou se soltem sorrisos cínicos ou puros, quem não caminhar, adormecerá para acordar, talvez, tarde demais. Chorarei quando tiver de ser, vou-me rir quando achar piada, pensarei se fico triste ou feliz mas caminharei porque tudo tem o seu tempo. O pior erro é tentar parar o relógio. Quando ele parar, a linha da vida também parou.

Já amei demais, já amei de menos, já fui amado sem dar por isso. É muito bom ter quem nos ame. Sim, sabemos que tudo isso é verdade mas só nos faz algum sentido quando nos toca a solidão e/ou a desilusão.
Estive sempre a um passo da felicidade e da decepção… quantas vezes olhei para ninguém sorrindo com lágrimas a caírem. Quantas vezes chorei para ti e tu não viste. Quantas vezes tu choraste e eu te desprezei. Mas o mundo é redondo e vamo-nos sentir impotentes porque “ele” não volta atrás. Mesmo que voltasse, fizemos um fado tão errante que nunca permitiria um retrocesso.
Tantas vezes te disse que o mundo é redondo e vamo-nos reencontrar, nem que seja a milhares de quilómetros de distância, naquele preciso momento sentiremos a existência comum, os erros parecerão dores ultra-rápidas, o amor perdido parecerá que existe naquele preciso instante, naquela mesma dor. E iremos sorrir para quem estiver sem conseguirmos dar qualquer explicação porque achamos que ninguém nos compreenderá, algo fora de prazo que não tem o dever de servir ao próximo.
Vou-te amar agora porque tudo o que é valido neste ato, nunca estará assegurado amanhã. Vou-te dizer que te amo porque amanhã as minhas palavras poderão não se soltar. Vou enfrentar o teu mau feitio porque esse, provavelmente lá estará amanhã, porque é alheio a sentimentos.
E tudo o que te disser hoje vais senti-lo mais tarde porque o mundo é redondo.




Jornal i online, 11 julho 2012