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Gostava de sentir esse momento em que os corpos não acompanham a imaginação e redesenhava-te com as minhas mãos enquanto segredavas ao meu ouvido suspiros que seriam poemas onde as letras eram os meus dedos e a tinta o meu suor. Pensava no que não pensava e sentia o veludo do teu corpo no qual deslizava com todos os sentidos apurados. Desta vez o gato não entrava nem a tv fazia brilhar o que não interessava. Desta vez era para lá do mundo, para lá do desejo, para lá da paixão. Mais uma vez te sentia violentamente, sem perdão nem dó, imperdoável era não fazê-lo. Imperdoável era não te empurrar ou puxar, soando como um estalo, não te deixar marcada pelo que a fantasia não permite.
Sabia que o abuso era o pecado mais desejado, o "não" que nem entra no ouvido porque nem faz sentido. Assim te sentia suada, perdida, sem saber o que virá a seguir, porque a seguir continua a não haver destino. Como sem destino continuariam as minhas mãos em ti, vincando os meus dedos no teu corpo, beijando nem sei o quê nem quando porque isso nunca foi para ser pensado. Os nomes que saiem nem sequer vêm no dicionário da má lingua, a ofensa é poema do sexo e o sexo é algo demasiado básico nesta dança de corpos sem coreografia.
É assim o desejo que de repente passou na minha alma e no meu corpo. Até sempre.